terça-feira, 6 de novembro de 2018

DE ONDE VIM


Sei de onde vim
Vim da feira, da rua enlameada
Do ônibus que se atrasa
E do emprego sempre esperado

Vim da venda, da escola prometida
Do puro pão e mais nada
E do passeio sonhado na boléia

Vim do quintal, do desejo de pés calçados
Dos aniversários esquecidos
E das promessas de estrada

Vim da roça, da esperança de vida
Do cheiro do café torrado em casa
E das trincheiras vencidas

Vim do sonho, da criança adiada
Da fome na noite interminável
E dos afetos que me foram dados

Sei de onde vim
E não escondo o corpo nem a alma
Não quero seu mel com sangue
Nem seu amor com cheiro de pólvora