domingo, 5 de fevereiro de 2023

VAI PASSAR

Lançado no papel insensível aos sentimentos

O poema não me salva nem aplaca essa dor

Que hoje nem sua presença acalenta

 

Os últimos dias me lançaram ao passado

Descarregando na memória um rastro de tristeza

Buscando encontrar a arca perdida

Em que meu amor não foi suficientemente capaz

De fazer com que a luz que brilha em mim

Iluminasse o seu caminho

 

Onde o escuro entre nós se fez, se imaginei somente a luz?

Fiz da vida apenas a minha aventura e a abandonei?

Gravei apenas na página em branco a minha ternura?

Esqueci de olhar nos teus olhos e viajar contigo em tuas palavras?

Fiz gestos indecifráveis que não lhe entregou a beleza da vida?

 

Porém, no vazio que agora invade o meu coração

Encontrei a esperança em mil pedaços e chorei

Lágrimas de sal antigas nunca vertidas por você

 - Sempre uma alegria a encher os olhos de doce emoção

 

Mas ao erguer-me e enxugar as lágrimas

Vi que os pedaços frágeis da minha infinita esperança

Se dividiram para iluminar a beleza de seus dezessete anos

E respirando aliviado, esperancei que ela seria para sempre

E meu coração cantou baixinho um refrão sem pausa

Vai passar, vai passar, vai passar

DA DOR AO INFINITO

 Quem se importa se lá longe a vida é morta

sangrando ideias poucas em noites frias

Se achada no corpo a bala perdida

Da distância não se ouvem os gritos?

 

Quem se importa se ali perto a vida é torta

definhando sonhos em canudos curtos

Se esqualidados os corpos e corrompida a vida

Da queda lenta não se ouvem os gritos?

 

Quem se importa se ao meu lado a vida é porta

Afastando abraços em distâncias medidas

Se destruindo laços em aventuras perdidas

Da dormência do outro não se sente o conflito?

 

Longe, perto ou ao lado é certo

Soem as trombetas do amor explícito

Que não há distância que nos separa

Da dor do outro ao infinito

 

Venham chuvas e tardes ensolaradas

Venham mesas postas e comida farta

Venham deuses em nosso apelo

Que a saudade não basta

FILHA DO AMOR

 Quando se perde um súbito amor

Que para sempre em nós haveria de viver

Fosse por paixão insana ou medo da solidão que abandona

A dor é um crepúsculo duradouro do tempo

Que embora ardente, esvai como a chuva em dia quente


Mas se esse amor para sempre em nós

Sendo não um laço, mas de um terno e infinito abraço

De paralisar o tempo e abarcar o espaço 

A dor é como chão ausente e escuridão que não amanhece 

Fazendo da vida uma imensa e ingrata ferida

Que não há coração que aguente