De: Arlinda Pessoa Morbeck (1889-1960)
(Considerada pela UFMT, a primeira poetisa do estado de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul em 1998, através de uma pesquisa coordenada pela professora Hilda Gomes Dutra Magalhães, a qual é pós-doutora em estudo da teoria literária. Avó paterna de Francisco Morbeck. Ver: http://www.morbeckxcarvalhinho.com.br/index.php?ver=pagina&cod=1)
(Considerada pela UFMT, a primeira poetisa do estado de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul em 1998, através de uma pesquisa coordenada pela professora Hilda Gomes Dutra Magalhães, a qual é pós-doutora em estudo da teoria literária. Avó paterna de Francisco Morbeck. Ver: http://www.morbeckxcarvalhinho.com.br/index.php?ver=pagina&cod=1)
Era a cigana mulher meiga e formosa
Cabelos negros, olhar muito sereno
Eu contemplava sua tez mimosa
Sublime adorno de um rosto moreno
Fitando-me comovida, admirada
Do meu lânguido olhar cheio de dor
sorrindo, assim, pronunciava
Compadecida do meu grande amor
Te aproximes de mim, escuta assim
Ele virá, ouviste? Ele virá
Teu noivo amado chegará rosado
Ele virá, dizia-me, ele virá!
Fitando-me com a ternura de um sorriso
Porém em tua casa encontrará
Tristezas e lágrimas, eu te profetizo!
Receberás o prêmio aventurado
Quando chegar o Anjo dos Amores
Festejando o teu dia de noivado
Luzes, risos, flores
O mar banhará com suas ondas brancas
qual uma noite de luar
O costado imenso do navio
Que para longe há de te levar
E eu mirava aquele rosto angélico
Onde a tristeza pouco se demora
Lenço encarnado emoldurando a fronte
Muitas medalhas pela trança a fora
Viajarás por azulados mares
Os teus parentes ficarão chorando
Terás carícias e terás pesares
Na solidão dos prados se enflorando
Longe daqui, nas selvas brasileiras
Verás abelhas fabricar o mel
Em grandes rios tu verás mil pedras
Mais radiantes que teu anel
Eu olhava aquela mulher formosa
Linda Cigana do corpo delgado
Que trazia minhas mãos entre as suas
Num aconchego terno e delicado
Terás amigos, eles serão tantos
Qual as boninas que nos prados crescem
Qual as estrelas cheias de encanto
que no azul do firmamento resplandecem
Porém, cuidados com as visões pomposas
Pois as boninas morrem no verão
E as estrelas, nas noites tenebrosas
Não aparecerão
E saiu pela porta que se abria
A cigana formosa e apressada
Até logo, me disse com alegria
E seus passos rangeram pela escada
Hoje recordo a curiosa história
Que da cigana ouvi com faceirice
A profetisa ganhou a vitória
Pois foi verdade o que a Cigana disse
Eu era muito jovem
Quando a Cigana leu
Nas linhas de minha mão
A sorte que Deus me deu!