terça-feira, 8 de janeiro de 2019

A CIGANA

De: Arlinda Pessoa Morbeck (1889-1960)
(Considerada pela UFMT, a primeira poetisa do estado de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul em 1998, através de uma pesquisa coordenada pela professora Hilda Gomes Dutra Magalhães, a qual é pós-doutora em estudo da teoria literária. Avó paterna de Francisco Morbeck. Ver: http://www.morbeckxcarvalhinho.com.br/index.php?ver=pagina&cod=1)

Era a cigana mulher meiga e formosa
Cabelos negros, olhar muito sereno
Eu contemplava sua tez mimosa
Sublime adorno de um rosto moreno 

Fitando-me comovida, admirada
Do meu lânguido olhar cheio de dor
sorrindo, assim, pronunciava
Compadecida do meu grande amor

Te aproximes de mim, escuta assim
Ele virá, ouviste? Ele virá
Teu noivo amado chegará rosado 

Ele virá, dizia-me, ele virá! 
Fitando-me com a ternura de um sorriso 
Porém em tua casa encontrará 
Tristezas e lágrimas, eu te profetizo!

Receberás o prêmio aventurado 
Quando chegar o Anjo dos Amores
Festejando o teu dia de noivado
Luzes, risos, flores

O mar banhará com suas ondas brancas 
qual uma noite de luar
O costado imenso do navio 
Que para longe há de te levar

E eu mirava aquele rosto angélico 
Onde a tristeza pouco se demora
Lenço encarnado emoldurando a fronte
Muitas medalhas pela trança a fora

Viajarás por azulados mares
Os teus parentes ficarão chorando
Terás carícias e terás pesares
Na solidão dos prados se enflorando 

Longe daqui, nas selvas brasileiras 
Verás abelhas fabricar o mel 
Em grandes rios tu verás mil pedras
Mais radiantes que teu anel 

Eu olhava aquela mulher formosa
Linda Cigana do corpo delgado
Que trazia minhas mãos entre as suas
Num aconchego terno e delicado 

Terás amigos, eles serão tantos 
Qual as boninas que nos prados crescem
Qual as estrelas cheias de encanto
que no azul do firmamento resplandecem 

Porém, cuidados com as visões pomposas
Pois as boninas morrem no verão 
E as estrelas, nas noites tenebrosas 
Não aparecerão

E saiu pela porta que se abria
A cigana formosa e apressada
Até logo, me disse com alegria 
E seus passos rangeram pela escada

Hoje recordo a curiosa história 
Que da cigana ouvi com faceirice 
A profetisa ganhou a vitória 
Pois foi verdade o que a Cigana disse

Eu era muito jovem
Quando a Cigana leu
Nas linhas de minha mão 
A sorte que Deus me deu!