quinta-feira, 9 de abril de 2009

MENTIRA

A violência é uma mentira.
Invenção da comunicação.
Como de resto o roubo, o assalto,
o seqüestro e a bala perdida.

Que triste sina a minha,
viver sob esse manto.
Mal abro os olhos todo dia
e sou refém da corrupção de menores,
do assassinato cruel e frio
e do uso indiscriminado de drogas.

Em direção ao trabalho,
ao culto de domingo
ou à casa de um amigo,
vou com o sangue no chão,
as mãos algemadas
e a foto da criança desaparecida.

Não vêem os jornalistas
o esforço dos políticos?
O compromisso dos governos
e a competência dos técnicos?
Exalam ética pura
e seus olhos nunca dissimulam.

E mesmo assim insistem...
Mentem sobre corrupção no governo
e mais ainda quando tratam
de favorecimentos
licitações fraudulentas
e desemprego

Deixem em paz esses mártires,
oh imprensa tola e surda!
Tenha coragem e defenda
mais quatro anos vezes quatro
para Sarney, FHC, Temer, Aécio
Ciro, Dilma, Lula e toda essa turma.

Ocupe-se do povo, ensine-o!
Que no voto o poder dele emana.
E, em nome da paz,
da preservação das instituições,
não lhes diga jamais, nem ao ouvido,
que ele escolhe o que já foi escolhido.

Reformemos a imprensa
é o que nos resta,
para que nunca ousem a mentira
ou acabarão os únicos culpados
pela violência, pela corrupção
pelo desemprego
e pelas desgraças da vida.

Proibamo-la de duvidar
da honestidade dos políticos,
dos governos estabelecidos
e dos empresários de sempre.
Homens de bem que representam as ruas,
com leis, ética e liberdades suas.

Já temos problemas suficientes
Com quem insiste em dizer que jornais, rádios e TVs
São artigos de luxo por governos comprados
Que a independência dos três poderes não existe
Que eles se misturam
E ficam desequilibrados

Dizem esses insanos:
Que o parlamentar que fiscaliza o executivo tem amigos no governo.
Que o judiciário que equilibra é pelo parlamento e governo indicado.
Que o executivo, que põe mãos à obra, tem líder na Câmara e no Senado.

E mais ainda acusam, sem nada entender de equilíbrio entre poderes:
Que o parlamentar muda de voto se no projeto do governo for contemplado.
Que o técnico dá parecer favorável se algo em troca for combinado.
Que o governo libera verbas de obras se parcela do dinheiro voltar lavado

Que absurdo...
Ao povo não se pode dar asas!
Quem foi que a eles deu a palavra?
Foram eleitos por quem? Foram empossados?
O povo fala de quatro em quatro anos,
nos intervalos fica calado!

Daqui a pouco o povo vai taxar de desonesto
o enriquecimento dessa turma da noite para o dia.
E como não têm competência,
não estudam porque não querem,
não sabem, nem procuram pela internet,
não se capacitam para o trabalho,
enfim não se estabelecem, como é dito,
vão acusá-los de enriquecimento ilícito.

É benção! É benção, amigos.
O dinheiro é limpo, lavado do pecado.
Fruto do esforço desses abnegados que cuidam do Estado.
Veja suas fotos sempre serenas, suas roupas bem cortadas.
Fazem sacrifícios, é evidente, em troca de alguns trocados.
O povo não sabe o que fala, o povo é que é culpado.

Outro dia vi um numa esquina, foi rápido,
nem dá para fazer retrato falado.
Dizia, aos brados, que Tiradentes morrera
por ser contra os 20% de impostos que os portugueses cobravam.
E que, no Brasil de hoje, já chegava a 40% o que pagávamos.
Que perigo, um cidadão honesto pode se iludir com esse desgraçado!

Por certo é mais um que não sabe fazer contas,
não entende os elevados custos do nosso Estado,
que cumpre sua obrigação constitucional de oferecer
saúde, educação, justiça, segurança, habitação
e bolsas mensais de tudo, em dinheiro vivo, para aplacar a fome,
a sede, a doença, o desemprego, a indústria e o supermercado.


...Tenham pa-ci-ên-ci-a!
Não forcem a porta, sejam educados...
limpem os pés é o que lhes peço...
Não tenho trocado. Quem sou?
Ora, um ser humano qualquer...
Com curriculum e bem intencionado
Esperando a próxima eleição,
para integrar-me aos bem aventurados!

INTEIROS

Acostumado a tratar do topo das ondas
Do estopim que em breve estoura
Do ar que foge das narinas em meio à cortina de fumaça
Da água que ameaça os pulmões logo abaixo do queixo estendido
Da dor que explode da ferida do outro abatido
Da tragédia do silêncio do corpo torturado e desaparecido
Sei bem o que éramos...
Quando vejo seus olhos sem chama
Suas vozes sem drama
Suas vidas sem trama
Seus rostos à espera

Éramos inteiros
Donos de nossas vidas
Senhores do mundo
Guardiões da Justiça!

Agora o que resta
É o tempo de espera
O silêncio contido
A razão reprimida
A submissão suicida
As vozes do consenso

E nove letras
Elas mesmas perdidas...

R
E
S
A
P
E
Ç
N
A

O que faço com elas, querida?

QUEM VIVER VERÁ

Em algum lugar da vida mora um anjo
Abandonado e inerte como uma estátua grega
Paralisou-o uma névoa iluminada
Suave e branda como madrugada após a chuva...

No chão suas asas
No ar sua espada
Nenhum movimento mais
Mais nada

Vejo em volta o tempo esquecido
As artimanhas da natureza despida
Trançados de plantas, arbustos congestionados
Samambaias gigantes e dezenas de orquídeas

Milhões de gestos sobrepostos e superpostos
surfam sobre seu manto petrificado
e bastaria um definitivo...
Mas pra quê?

Ao seu redor apenas o ar...
O barulho do mar
a luz, a terra
e o esquecer.

Ele deixa o tempo passar...
Pois crê
impassível
Num outro que virá.

Outro
Em que seremos
O por quê
E o pra quê
De tudo o que há

Quem viver
Verá!